quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Autor Negro

O escritor angolano José Eduardo Agualusa, em entrevista à revista Época, nos dá exemplos interessantes sobre como nós brasileiros somos percebidos por estrangeiros. Em primeiro lugar, ele alude à nossa incapacidade de nos compreendermos como povo e nação. Em segundo, refere-se à nossa mentalidade, segundo ele colonizada, que impediria sobretudo às nossas elites nacionais apreciar a originalidade do ser brasileiro, para ele “uma súmula de África e Europa”. Essa súmula, no entanto, não se realiza como portadora de uma auto-estima positiva do brasileiro porque uma das partes dessa equação, a africana, permanece rejeitada no imaginário e na pComo a maioria dos estrangeiros, Agualusa interessa-se mais pelo que há de africano no Brasil do que pelo que seja europeu. Triste sina de uma elite que empreendeu todos os esforços para tornar-se uma expressão da Europa nos trópicos, utilizando para isso diversas estratégias. Desde a promoção do branqueamento físico de sua população, por meio dos estímulos dados à imigração européia, até a adoção passiva de um eurocentrismo conjugado à sistemática desqualificação, folclorização e exotização das manifestações culturais negro/africanas e indígenas. Por isso praticamos, como afirma Agualusa, um nacionalismo que não é xenófobo. Porém, essa atitude não xenofóbica restringe-se, de regra, ao que venha da parte branca do exterior. Basta ver o tratamento dispensado atualmente a africanos exilados ou o veto à imigração africana presente em uma de nossas constituições da década de 1930.rática social, em especial nas classes superiores.O que o escritor supõe seja incapacidade de compreensão das elites do país sobre a verdadeira natureza de nossa identidade nacional revela-se, em verdade, em uma incompatibilidade entre o projeto, abortado, de país branco europeizado, um desejo que permanece latente nesses segmentos da sociedade, e o país real que foi sendo forjado ao longo de nossa história pela resistência sobretudo de sua porção rejeitada: a negritude e africanidade que o conforma. Uma resistência cultural que confere a originalidade que lhe permite escapar de ser apenas um simulacro de país europeu, exercício patético no qual se empenha parte significativa dos seus setores dominantes.http://www.latinoamerica-online.info/soc04/afro12.04.html

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