Música e Dança na África a Sul do Sahará*
Gerhard Kubik (1981)
Em sentido restricto, o termo música/dança africana usa-se hoje exclusivamente para
as culturas musicais dos povos africanos a sul do Sahara, incluíndo os povos Khoisan do
sudoeste. Na antiguidade a área cultural da África negra extendia-se muito mais para norte
como podemos constatar em pinturas rupestres no Sahara. As culturas musicais da África
do norte actual são no fundamental diferentes das da África negra, pertencendo a uma área
afro-asiática mais do que a uma área estilística africana. Do mesmo modo, a música e as
danças das comunidades europeias fixadas no sul do continente africano não se incluem no
conceito de música e dança africanas.
Em África, tal como a definimos, existem, citando Alan Lomax, as seguintes regiões
de estilos musicais: Sudão ocidental, Bantu equatorial, Caçadores/recolectores africanos,
Bantu do sul, Bantu do centro, Bantu do norte, Sudão oriental, Costa da Guiné, Afroamericano,
Sudão muçulmano, Etíope, Alto Nilo e Madagascar. A inclusão de uma região
Afro-americana significa que a cultura africana abrange a diáspora africana. As culturas
musicais da costa da Guiné (Yoruba e Fon, por exemplo), da região do Congo/Angola e
com menor expressão do sudeste africano têm extenções em várias partes do novo mundo.
Só recentemente foi possível estabelecer com precisão a ligação de determinados elementos
estilísticos de vários tipos de música afro-americana com regiões estilísticas localizadas na
África negra.
Apesar das diferenças entre as tradições musicais da África do norte e da África
negra, sabemos do intercâmbio histórico e do contacto inter-cultural entre as duas áreas. O
comércio, a escravatura e a colonização islâmica tiveram como resultado a islamização da
música africana em em muitas regiões da África negra, e também um forte impacto de
aspectos musicais da África negra na África do norte e no sul de Marrocos. O Sudão
muçulmano é uma das regiões musicais islamizadas. Na África oriental as formas musicais
de influência árabe ou islâmica encontram-se mesmo no interior, no sul do Uganda por
exemplo, e não apenas ao longo da costa do oceano Índico. Vários instrumentos musicais
introduzidos pelos árabes podem ser encontrados nestas regiões, sendo o violino de uma
corda o exemplo mais visível. No entanto, vastas áreas da África negra podem-se considerar
virtualmente livres da influência árabe ou islâmica. As escolas tradicionais de circuncisão
para rapazes que encontramos a ocidente da África central, com as suas músicas e danças
associadas, foram desenvolvidas unicamente na África negra e não podem de forma alguma
ser relacionadas com práticas islâmicas.
É actualmente consensual que a música/dança africana de várias regiões do
continente passou por mudanças decisivas ao longo da história. O que hoje se designa por
música tradicional é com toda a probabilidade diferente do que se ouvia há alguns séculos.
Também não se pode considerar a música africana como exclusivamente étnica, na acepção
que é dado a este termo em etnomusicologia. As formas e características musicais não se
encontram rigidamente ligadas a grupos étnicos; de referir ainda a importância de cada
músico, com o seu estilo e criatividade próprias.
Os grupos étnicos foram por sua vez submetidos a um fluxo constante de influências e
características musicais; modas foram trocadas ao longo das fronteiras étnicas e linguísticas.
Quando o likembe, um pequeno lamelofone de caixa de ressonância oriundo da região da
foz do Zaire, começou a ser conhecido ao longo do curso do rio em finais do século XIX,
levado por servos coloniais Lingala, foi rapidamente adoptado por povos não-Bantus, como
* in "Cultural Atlas of Africa", Oxford, 1981. pp. 90-93. Tradução e digitalização de Domingos Morais, em
1997
.http://www.attambur.com/Recolhas/PDF/MusicaDancaSahara.pdf
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6ªA
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
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